domingo, 21 de dezembro de 2014

Fauna em Lendas

O presente conteúdo foi elaborado a partir da publicação Fauna e Flora em Lendas, produzida pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (www.museu-goeldi.br).

"As lendas nascem da tradição popular das narrativas orais. Elas contam histórias de seres humanos ou não que são encantados e têm poderes sobrenaturais.
Através das lendas, o imaginário popular recria e transforma fatos ao explicar fenômenos da natureza."
Jimena Felipe Beltrão


A Lenda do Boto

Nas primeiras horas da noite, o boto transforma-se em um belo homem, todo vestido de branco e com um chapéu para esconder um orifício na sua cabeça.
O belo moço sai pela cidade à procura de festa. Ao encontrar, procura uma moça jovem e bonita, convida-a para dançar. A moça logo fica encantada com a beleza do rapaz e se deixa levar para a margem do rio onde é seduzida. De repente, o homem pula na água e some nas profundezas do rio.
Depois de alguns dias, a moça sente que está grávida e atribui sua gravidez àquele rapaz de branco.
Dizem os ribeirinhos que se mulheres menstruadas viajarem num barco, o boto sente o cheiro à grande distância, vindo em direção ao barco para virá-lo. Para evitar a perseguição do boto, alguns caboclos passam óleo no casco de suas embarcações.
Porém, não atribuem a esse mamífero só malvadeza. Existem casos de botos que salvam náufragos, empurrando-os para as margens dos rios.

O boto-tucuxi (Sotalia fluviatilis)

O boto-vermelho ou boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis)

O boto é um mamífero da ordem dos cetáceos parente da baleia, que se alimenta de peixes que caça nos rios e lagos. Na Amazônia encontramos duas espécies:
O tucuxi, que é menor que o boto vermelho, porém, mais agitado, podendo dar saltos mostrando todo o seu corpo acinzentado. Vive em pequenos grupos, tanto na água doce, quanto na salgada, sendo considerado o protetor contra os naufrágios.
O boto-vermelho, que é chamado assim devido à coloração de seu corpo. O maior boto amazônico chega a medir quase três metros de comprimento, sendo que os machos são sempre menores. Quando sobe à superfície para respirar, apenas aparecem parte de sua cabeça e dorso.
 Os botos estão ameaçados em consequência do desmatamento, da mineração e da construção de barragens. São também muito perseguidos e mortos pelo homem, para que não comam os peixes e nem danifiquem suas redes; por serem considerados sedutores de mulheres; e, também, para que se retire o seu órgão genital, vendido como amuleto em feiras, com o intuito de atrair o sexo oposto.

Boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis)

Lenda do Uirapuru

Em uma aldeia, havia uma índia que encantava a todos os índios com sua beleza. Porém, quem a conquistou foi um índio flautista que ela adorava ouvir tocar, e que tocou seu coração.
Ao se aproximar a data do casamento, o índio saiu sozinho para pescar. A índia, esperando ansiosa a volta de seu amado, ficou preocupada com sua demora. Então, resolveu comunicar aos guerreiros, que saíram à procura de seu noivo.
Para tristeza de todos, encontraram-no morto sob uma árvore e, ao examinarem, notaram que tinha sido picado por uma cobra. Ao saber da tragédia, a índia começou a chorar sem parar. A alma do índio não conseguira ter paz vendo sua amada a chorar, então pediu ajuda a Tupã para diminuir aquele sofrimento. Tupã, penalizado, transformou o índio no uirapuru, um pássaro de pouca beleza, porém, de canto maravilhoso que, ao soar pela mata, confortou a índia fazendo-a parar de chorar. Hoje, sabe-se que quando o uirapuru canta, os outros pássaros silenciam para ouvi-lo e todos os corações apaixonados se encantam.

Uirapuru-verdadeiro (Cyphorhinus arada)

Muitos passarinhos da família Pipridae são conhecidos como uirapurus, porém. o uirapuru-verdadeiro pertence à família dos Troglodytidae.
É encontrado em quase toda a Amazônia, vivendo aos pares ou em pequenos bandos embrenhados pelo solo das matas de terra-firme e várzea, caçando insetos.
A coloração da sua plumagem é amarronzada, não possuindo o colorido dos outros pássaros. Poré, o seu canto se destaca pela beleza, soando como uma flauta, o que lhe confere o apelido de "Músico da Mata".

uirapuru-verdadeiro (Cyphorhinus arada)

Lenda do Peixe-Boi

Em uma aldeia, os índios estavam realizando uma festa para um casal de jovens. Em um determinado momento, o pajé ordenou que os dois fossem tomar banho no rio. Chegando lá, o pajé pediu que a moça mergulhasse e assim ela fez. O pajé pegou um talo de canarana, um capim muito comum nos rios da Amazônia e colocou na superfície da água. Naquele momento a moça foi subindo à tona, só que estava transformada em um peixe-boi. O rapaz, seguindo sua amada, mergulhou e, ao subir, também foi transformado nesse mamífero aquático. A partir desse acontecimento o casal foi se reproduzindo e dando origem a todos os peixes-boi que existem na Amazônia. Desde aquele dia, a canarana passou a ser o alimento preferido do peixe-boi.

Peixe-boi-da-amazônia (Trichechus inunguis)

Quando adulto, pode atingir até três metros de comprimento e pesar meia tonelada. Vive nos rios e lagos de água doce. Sua alimentação consiste em capins, aguapés e mururés. É o único mamífero herbívoro, totalmente aquático e que pertence à bacia amazônica. A fêmea tem um filhote a cada três anos e sua gestação dura em torno de 12 meses.
Essa espécie encontra-se ameaçada de extinção devido à captura indiscriminada há algumas décadas, quando seu couro, bastante resistente, era muito utilizado na fabricação de correias. A procura também pela sua carne contribuiu bastante para o seu desaparecimento dos rios.

peixe-boi-da-amazõnia (Trichechus inunguis)

Lenda da Mucura

Certa noite, um camaleão estava preparando um remédio e convidou uma mucura para experimentá-lo. O camaleão acendeu uma fogueira, pegou umas pimentas e subiu em uma árvore. Ele pediu à mucura para prestar atenção e repetir o que ele fizesse. O camaleão pegou as pimentas, passou nos olhos e saltou da árvore em cima da fogueira e correu para a água. A mucura foi seguir os passos do camaleão, só que ao pular na fogueira começou a se queimar. Quando o camaleão viu que a mucura estava em perigo, para salvá-la, puxou-a pela cauda e a jogou na água. Os pelos da mucura ficaram na pata do camaleão. Esse é o motivo da mucura não possuir pelos na cauda.

Mucura ou gambá (Didelphis marsupialis)

Mamífero que pode ser encontrado em vários ambientes, como matas, capoeiras, quintais etc. Possui hábitos noturnos, dormindo durante o dia em ocos de árvores ou embaixo de folhas secas, e à noite saindo à procura de sua alimentação, que consiste, basicamente, de insetos, ovos, pequenos pássaros e frutos
É semelhante a um rato de tamanho avantajado, podendo medir até 50 centímetros de comprimento. Assim como o canguru, a mucura é um mamífero da ordem Marsupialia, pela presença de bolsa ou marsúpio nas fêmeas, localizada no seu abdome onde guarda e amamenta seus filhotes que nascem em estado prematuro.

mucura (Didelphis marsupialis)


Lenda da Juruva

A juruva, voando pela mata, encontrou-se com a mãe-do-fogo, chorando muito. Querendo saber qual o motivo de todo aquele drama, dirigiu-se até a árvore em que estava a mãe-do-fogo, que então explicou que ela havia se descuidado e deixado que as chamas que acendiam o sol se apagassem.
Para ajudar a reacender o sol, a juruva foi até um pajé que possuía uma chama que jamais se apagava. Porém, o pajé já estava muito velho e não podia ir ao encontro da mãe-do-fogo e, assim, levar um pouco da brasa da chama que nunca se apaga. Foi aí que a juruva apanhou a brasa e transportou-a entre as duas penas de sua cauda até onde estava a mãe-do-fogo, que ficou bastante agradecida. No transporte da brasa, a juruva queimou parte das suas penas e é  por isso que, até hoje, existe uma falha nas penas da cauda desse pássaro.

Juruva (Família Momotidae)

Vários pássaros pertencentes a essa família são conhecidos pelo nome de juruva. Habitam nas florestas, podendo ser encontrados em matas virgens ou secundárias, alimentando-se de insetos e larvas, aranhas, moluscos e frutos silvestres.
Chamam atenção pelo colorido esverdeado do seu corpo e pela forma das penas da cauda (retrizes), que são longas, com falhas, terminadas em raquete.
Não formam bandos, possuindo hábitos solitários ou encontrados em casais. Constroem seus ninhos em buracos nos barrancos, onde depositam de três a cinco ovos.
Costumam ficar muito tempo parados em um galho ou movendo somente a cauda de um lado para o outro, como um pêndulo.

juruva






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