Lenda do Açaí
Há muito tempo, em uma aldeia a alimentação estava escassa devido o aumento da população, por isso o cacique ordenou o sacrifício de todas as crianças que nascessem a partir daquele dia, para que ninguém passasse fome. Iaçã, a filha do cacique, deu à luz a uma menina que também teve que ser morta. Iaçã chorava todos os dias, pedindo ao deus Tupã que trouxesse sua filha de volta.
Certa noite, Iaçã ouviu o choro de uma criança, levantou da rede e correu em sua direção. De repente, vê sua filha aos pés de uma palmeira. Ficou assustada e saiu correndo para abraçá-la. Como num passe de mágica, a menina desapareceu. Iação chorou tanto que morreu. No dia seguinte, os índios encontraram Iaçã morta, abraçada à palmeira que estava cheia de umas frutinhas escuras.
O cacique mandou que apanhassem as frutas e fizessem um vinho Os índios assim fizeram: apanharam os frutos, amassaram em uma peneira e retiraram um suco grosso. O cacique resolveu chamá-,lo de açaí, o nome de sua filha escrito ao contrário. A partir daquele dia, a palmeira começou a fornecer o açaí, que serviu como alimento para a aldeia. Com isso, o cacique resolveu suspender a matança dos recém-nascidos.
Açaí (Euterpe oleracea)
O açaizeiro é uma das palmeiras mais típicas do Pará, podendo ser encontrada em terrenos de várzea, de igapó e em terra firme. Seu fruto fornece um vinho, o açaí, que tem uma coloração arroxeada e é considerado um dos principais alimentos dos ribeirinhos. Além do vinho, o açaí pode ser utilizado no preparo de licores, bolos, doces e em bebidas energéticas.
Essa palmeira tem grande importância para a população, sendo aproveitada para diversos fins. Da parte mais alta do estipe (caule), retira-se o palmito. de suas raízes preparam-se remédios para combater vermes; e suas sementes, jogadas no solo, sevem de adubo.
Sem dúvida, o açaizeiro reúne qualidades excepcionais que lhe permitem ser colocado em primeiro lugar como palmeira ideal e altamente compensadora para a obtenção de palmito. Mas, infelizmente, alguns palmiteiros, insensíveis aos protestos, vêm dizimando de modo irracional plantações naturais de açaí, ameaçando um celeiro que a natureza colocou à disposição do homem.
açaí (Euterpe oleracea)
Lenda do Guaraná
Na aldeia dos índios Maué, um casal estava muito triste porque não conseguia ter filhos e pedia a Tupã que o ajudasse a acabar com aquele sofrimento. Tupã vendo a tristeza do casal resolveu presenteá-lo com um lindo menino. Todos o admiravam pela sua simpatia, por isso, Jurupari, o deus do Mal, com inveja da criança, armou uma cilada. Ao avistar uma árvore, o menino resolveu apanhar umas frutas. Naquela ocasião, o Jurupari se transformou em uma cobra e pulou no menino, picando-o fortemente. O menino não resistiu e morreu, quase que instantaneamente.
Alguns índios, que por ali caçavam, encontraram o corpo do garoto. E todos, na aldeia, ao saberem da tragédia, ficaram muito tristes. De repente, um raio caiu próximo ao indiozinho morto. Então, a mãe do menino, imediatamente falou: "- É um aviso de Tupã! Ele pede para plantarmos os olhos de meu filho, que deles brotará uma planta que dará frutos saborosos para a nossa felicidade". E os índios assim o fizeram. Algum tempo se passou e, naquele local, onde os olhos foram enterrados, nasceu uma planta cujos frutos negros eram envolvidos por uma leve camada esbranquiçada, parecidos como os olhos humanos. Devido à aparência do fruto, os índios o denominaram de guaraná, que significa: "guara" (ser vivo) e "ná" (semelhante).
Guaraná (Paullinia cupana)
O guaraná é uma planta tipicamente da Amazônia, que se desenvolve em forma de arbusto ou cipó, dependurando-se em outras árvores próximas, sem causar-lhes prejuízo. Pode medir até 12 metros de altura.
Seus frutos avermelhados formam cachos que, quando maduros, se abrem e deixam à mostra as sementes que são envolvidas, em parte, por uma película branca e com isso se assemelham a um olho. Essas sementes, depois de beneficiadas, podem ser utilizadas na fabricação do bastão de guaraná, xaropes, refrigerantes, etc.
O guaraná é considerado um produto medicinal, sendo empregado como estimulante físico, diurético, servindo para combater diarreia, enxaqueca e impotência.
guaraná (Paullinia cupana)
Lenda da Mandioca
Uma bela jovem índia estava em busca de um grande amor. Certa noite, enquanto dormia, sonhou com um rapaz branco e loiro, muito bonito, também. Na noite seguinte, ela tornou a sonhar com o mesmo rapaz e acabou se apaixonando. E assim, todas as noites o rapaz aparecia nos seus sonhos. Porém, para a sua tristeza, mais que de repente, o rapaz sumiu para sempre.
Passou-se algum tempo, a índia percebeu que estava grávida e associou sua gravidez aos encontros amorosos que teve com o belo moço. Seu pai, o cacique, ficou furioso, pois não acreditava naquela história.
Meses depois, a índia deu à luz a uma linda criança que recebeu o nome de Mani. Ela era a alegria da aldeia, todos brincavam com a menina e a protegiam.
Com menos de um ano de idade Mani morreu sem adoecer. A mães ficou desesperada e para não se separar da filha, resolveu enterrá-la dentro de sua oca. Todos os dias chorava ajoelhada junto ao local onde Mani fora enterrada. Tentando trazer sua filha de volta, a índia deixava que o leite de seu seio derramasse no túmulo. Certo dia, a índia notou que, do túmulo, brotou um arbusto: então, resolveu cavar para descobrir o mistério. No fundo da cova encontrou raízes bem grossas, que ao serem raspadas ficavam da cor de de Mani. À noite, o moço loiro apareceu em um sonho para o cacique, inocentando a índia e revelando que Mani veio ao mundo para servir de alimento para a aldeia. O moço ensinou ao cacique como deveria cultivar aquela planta e como preparar o alimento de suas raízes.
No dia seguinte, o cacique pediu desculpas à sua filha e contou a todos o sonho que tivera. A planta recebeu o nome de Mani-oca, que significa casa de Mani.
Mandioca (Manihot esculenta)
Pequeno arbusto, com folhas solitárias, alternas. Acredita-se que existem cerca de 80 espécies que recebem essa denominação. A macaxeira é uma variedade da mandioca utilizada para fazer bolo, pudim, e consumida cozida com sal ou frita. Hoje, a fécula da mandioca substitui o trigo para fazer pão.
A raiz dessa planta é constituída de tubérculos, que se compõem de uma substância sólida, lisa e compacta, branca e adocicada (na macaxeira ou aipim) ou, então, amarelada e amarga (na mandioca) utilizada na fabricação de farinha. A raiz da mandioca, quando espremida, deixa escorrer um líquido amarelo chamado tucupi, rico em ácido cianídrico, um violento veneno. Porém, se for bem fervido, perde o efeito tóxico, podendo ser utilizado no preparo do tacacá, pato-no-tucupi e molho-de-pimenta.
mandioca (Manihot esculenta)
Lenda do Tamba-Tajá
Um casal de índios vivia muito feliz em sua aldeia e juntos compartilhavam de todos os momentos. Porém, uma doença grave atacou as pernas da índia, que adoeceu e ficou paralítica. O índio, para ficar na companhia de sua amada, amarrava-a em suas costas e saía para caçar, pescar, colher frutos, tomar banho. Nunca a deixava sozinha.
Certo dia, caminhando com a índia em suas costas, notou que ela estava como o corpo frio e sem movimentos.
Então, percebeu que a índia estava morta. O índio ficou tão triste, que para não se separar de sua amada, fez uma cova às margens de um igarapé e se enterrou junto com a índia.
Após algum empo, em uma noite de lua cheia, no local onde o casal fora enterrado, nasceu uma planta com folhas de cor verde-escuro, em que no verso encontrava-se presa uma folha menor, parecida com um órgão genital feminino. Essa planta, chamada de tamba-tajá, representa o amor eterno entre o casal de índios que morreram juntos, mas deixaram imortalizado o seu sentimento.
Tamba-tajá (Xanthosoma sp.)
Existem na Amazônia várias espécies de plantas que recebem o nome de tajá. Elas são consideradas encantadas pelas populações da região. Algumas pessoas costumam plantá-las em vasos e jardins e regá-las com água em que foi lavada a carne, acreditando que, assim "alimentaria" o espírito da planta para que o mesmo protegesse sua residência.
O tamba-tajá é uma planta ornamental, que apresenta folhas grandes em forma de setas (sagitadas), com pecíolos longos. Característica mais marcante desse tajá é a presença de uma expansão foliar de nervura central, como se fosse uma folha menor, na face inferior da folha o que torna essa planta bastante curiosa na natureza. Essa expansão na folha corresponde, na lenda, à índia que está sempre "guardada" pelo amor.
tamba-tajá (Xanthosoma sp.)
Lenda da Vitória-Régia
Certa noite, uma índia distraiu-se tanto olhando para a lua, que caiu da árvore nas profundezas do rio e morreu.
A lua penalizada, transformou-a em uma linda planta aquática. De sua flor, exala um delicioso perfume durante a noite e sua grande folha recebe com mais intensidade os carinhos da lua. Essa planta é hoje conhecida como vitória-régia.
Numa aldeia da Amazônia, acreditava-se que as estrelas do céu eram as índias mais bonitas que foram levadas pela lua, que era um belo guerreiro. As índias cunhãs, querendo se aproximar do guerreiro, subiam em penhascos e árvores altas para admirarem a sua beleza esperando que fossem levadas pelo seu amado para que pudessem ser estrelas no céu.
Vitória-régia (Victoria amazonica)
Essa planta aquática, com folha de formato arredondado, verde na parte superior e púrpura na inferior, é encontrada em lagos, lagoas e rios de águas calmas.
Um indivíduo adulto pode chegar a medir cerca de 1,8 metro de diâmetro e consegue suportar em sua folha um animal de pequeno porte.
Sua flor pode medir até 30 centímetros de diâmetro. Quando nova, apresenta coloração esbranquiçada, mas com o passar dos dias vais ficando rosada.
vitória-régia (Victoria amazonica)
Referência bibliográfica
Fauna e Flora em Lendas - 3ª edição
Museu Paraense Emílio Goeldi